BeatBossa

domingo, maio 27, 2007

janela indiscreta

Taí um filme bom. E não vou tentar convencer ninguém disso. Ele é bom e pronto. Não só porque tem a assinatura do Hitchcock, não só porque tem um close da Grace Kelly que é histórico, meu, que mulher linda, é de se apaixonar por ela "at first sight". A locação do filme é espetacular, as luzes, no amanhecer, à tarde, no crepúsculo, à noite. A agitação da vizinhança. Imagine um cara com a perna quebrada, sem nada pra fazer a não ser espiar os vizinhos? Eu iria mandar ele ler um livro, mas acho que ele já tinha se chateado com isso também. E pelo estado dele, chamar a Grace para dar uma assistência tampouco ajudaria muito. Aí o cara cisma que um vizinho matou a esposa. Olha que piração. O cara presa a uma cadeira de rodas, sem poder sair do apartamento. Á solução é usar o amigo investigador e cético e a namorada que se imbui de um espírito aventureiro para tentar conquista-lo, já que ele acha que ela é muito cocota para o espírito aventureiro dele. O resumo do enredo é esse. Comprei porque várias pessoas já haviam me falado dele, e porque o selo autoral garante a qualidade. O filme é restaurado, tem comentários e entrevistas com pessoas legais, como a filha do Hitchcock e o roteirista, além dos caras que restauraram a película.
Acredito que o ponto de vista do filme é o que define um tipo de estética que eu acredito que exista na literatura, onde a figura do espião é o arquétipo. O artista, o diretor de cinema, o escritor é alguém que invade a casa das pessoas, na sua intimidade, para ouvir atrás da porta, para ouvir o que a moça canta enquanto se banha, e se possível tentar advinhar em quem ela pensa quando se masturba sozinha a noite. Mas isso me parece meio óbvio demais, ou simples, sei lá. Mas é uma coisa que não vejo em uma certa literatura contemporânea mais centrada na linguagem em si, ou na impossibilidade da linguagem representar, ou capturar esteticamente a realidade. A objetividade é apenas ilusão. Concordo com isso, mas para mim, e a literatura que pretendo conversa com a arte que caras como o Dalton Trevisan, e Nelson Rodrigues fazem. remexendo no lixo dos nossos pequenhos pecados domésticos, nas raspas das relações, na escória da humanidade está o que nos define enquanto humanidade.
E o filme "janela indiscreta" mostra não só esse lado meio pessimista da vida, a sra coração solitário é um exemplo disso, ou o compositor também, mas mostra que a única saída é encarar a vida de peito aberto, se se der mal, deu ora bolas, e vamos em frente.

what a woman!


A primeira vez que ouvi falar dela foi numa daquelas notas de lançamentos da Bravo! curioso procurei no emule e baixei o album 'the greatest', que de coletânea só tem o nome. Como disse um resenhista do Rolling Stone que a entrevistou, sua música bebe do desastre e da desilusão amorosa. Ele ficou em depressão um bom tempo, por causa dessas coisas que os homens fazem com o coração das mulheres, e inclusive ela tentou se matar. Se a carreira dela foi um acidente, foi um acidente feliz ter ouvido esse som sensacional, essa voz forte, com personalidade que ela tem. Ela tem história e biotipo para ser comparada com Janis e Lady Day, mas influências a parte, que partem do soul, do blues e adjacências a personalidade com que canta nos soa melancólica, mesmo as canções mais alegrinhas, "could we", "willie" parecem ser revestidas dessa aura de tristeza e desilusão, que aparece mais claramente em 'hate" com versos como "they can give me pills/or let me drink my fill". Há uma pontinha de esperança, que me soa ingênua, mas nem por isso não-lírica na canção 'living proof': "you're supposed to have the answer/you're supposed to have living proof/ well I am your answer I am living". Apesar de haver poucos cantores descentes hoje em dia, Eddie Vader sendo uma feliz exceção, a safra de divas está bombado. Mulheres como Laren Hill, Macy Gray, Amy Winehouse, Carla Bruni, têm dado uma roupagem moderna para a boa e velha canção, seja cantada em que língua ou ritmo for, o que me faz gostar delas é a personalidade musical que elas têm, que acho que a Joss prometia e acabou se rendendo ao mercado com um albunzinho meia boca "presenting...", como se os outros fossem ensaio e agora ela quer mostrar quem é. E acho que mostra que é só mais uma patricinha que tentou ser uma Janis moderna e não conseguiu ter peito pra isso. O que a Chan faz é incrível por que é diferente e faz você gostar mais ainda a cada vez que ouve o som dela.

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sábado, maio 12, 2007

eita filme bom


o amor simples susto
quase frio de sono suado
e o amor escurece cresce
incandece e vela noites inteiras

entre um amor e outro
acordo
e sonho que o dia acabe logo.
___________

O fotógrafo desse filme é um cara foda.

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domingo, maio 06, 2007

dando as caras


moçada, apareci para das as caras por aqui. Ultimamente o blogue tá meio largadão mesmo, mas infelizmente o doutorado tem me sugado muito tempo e energia. Além de eu ter perdido um pouco a empolgação de postar coisas por aqui ler as coisas dos outros também. Ando meio sem saco para isso mesmo.
O cartaz é de um filme do Wong de 1991 que só tá desembarcando por aqui agora. É um baita filme e as mulheres orientais têm uma beleza simples e instigante. O enredo fala de um jovem, York, que é uma espécie de playboy/malandro que ilude as donzelas e depois se desfaz delas como se isso não fizesse diferença alguma, e para ele não faz mesmo. Ele descobre que a mulher que o criou não é sua mãe verdadeira, e agora quer que ela conte quem são seus verdadeiros pais, coisa que ela reluta em fazer. O interessante é o contraste entre o amor desprendido que ele sente pelas mulheres, uma espécie de hedonista apenas preocupado em receber e proporcinar algum tipo de prazer, mas sem comprometimento. Ao mesmo tempo as duas mulheres que se envolvem com ele durante o filme são enredadas pelo charme dele e em pouco tempo estão aos seus pés implorando para que ele não as abandone, numa espécie de amor desesperado que consome e não sobrevive imune e sem quedas ou percalsos. O destino das paixões parece ser mesmo o sofrimento, pelo menos na leitura que eu faço do filme.
Em uma cena a primeira mulher volta para pegar suas coisas na casa do York, e lhe diz que quer voltar para ele, ele replica dizendo que não é homem para ela e:
- Não sou o tipo que se casa.
- Não me importo. Só quero estar com você.
Pelo que li por aí sobre o Wong, ele deixa que os atores improvisem os diálogos, coisa que o glauber fazia também, eu fico meio perdido sem saber se as falas então são criações dos atores ou do diretor, o que também é um ponto positivo do diretor em dividir o papel de criação com os atores, já que para o filme ser bom é preciso haver uma sinergia entre esses dois pólos, o que fica na frente da câmera, e o que fica atrás. O resultado é com certeza excelente.

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