BeatBossa

terça-feira, julho 25, 2006

reservoir dogs

Gravura de Edward Hopper

Anything Else

Uma hora fico triste
noutra já estou tranquilo.
No final nem sei
direito
se é só isso
ou se tudo aquilo.

Como se pensasse
perdesse um mel que fosse
limpo de qualquer solidão.

O doce, por ser doce
dever ser simples
como se bebido em todas as mãos.


sexta-feira, julho 21, 2006

Gravura de Franklin Cascaes

Cuidado: Frágil


Sou fraco.
Morro e não mato.
Um livro novo.
Um cd novo.
Comerciais me desejam.

Ainda vou ao maracanã ver um Fla-Flu
Decidir campeonato brasileiro;
Conhecer o corcovado;
A Lapa dos velhos malandros;
Os bares onde o Otto, Nelson, Vinicius e Rubem bebiam,
E falavam sobre as coisas maravilhosas que só o rio deve ter,
Só o rio tem garotas de Ipanema.

Sou volátil
Sou fácil táctil.
Como a vida poderia ser plástica
E petróleo e poliéster.
Vamos queimá-la!!!
Ou talvez biodegradável, podre, reciclável.

Vendo ou troco vida usada
(aceito carro no negócio)
Tratar aqui.

segunda-feira, julho 17, 2006

as outras zélias


As outras Zélias

Somente agora, quase dois anos depois e lançado estou conhecendo este disco. E o que é mais importante: conhecendo Zélia Duncan. E acho que ela mesma começou a se conhecer e a usar a sua maravilhosa voz para cantar canções de verdade. Se antes ela era uma boa cantora com um repertório ruim, agora ela conseguiu conjugar as duas coisas, o que veio desabrochar claramente no último trabalho “pré-pós-tudo bossa-nova band”. Mas não vou falar desse, quero falar deste genial “eu me transformo em outras”. O Verso que batiza o disco é de autoria de Itamar Assunção, um compositor que só estou descobrindo agora, aos retalhos, repare por exemplo neste trecho da canção que abre o cd, “quem canta seus males espanta”: “Entro em transe se canto, desgraça vira encanto/Meu coração bate tanto, sinto tremores no corpo/Direto e reto, suando, gemendo, resfolegando/Eu me transformo em outras, determinados momentos/Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento.” Não teria como não refletir a personalidade desta mulher incendiária.
Pelo disco todo perpassa, subjaz uma aura de canção perdida, de lirismo belle-époque, que dá vontade de ir ao Rio só pra conhecer a Lapa e escutar os sambas daquele tempo. O tempo dos boleros, dos choros e do samba-canção. E que maravilha de mistura. Choros, canções, sambas e até um jazz para temperar o caldo. Parece que em todas as músicas essa aura brilha, com uma leveza esplêndida. Ouvi, ouvi, e já estou querendo ouvir de novo, por estar pensando no disco. Outra canção saudosa é “deusa da minha rua”: Meus olhos são poças d'água/Sonhando com seu olhar/Ela é tão rica e eu tão pobre/Eu sou plebeu, ela é nobre/Não vale à pena sonhar.” Parafraseando o Jabor, essa é do tempo em que namorada não dava.
O repertório todo é selecionado a dedo, desde este clássico, passando por Tom e Vinicius, Dorival Caymmi, Tom Zé, Cartola, e Luiz Tati (que está aí para dizer a todos nós que a música popular brasileira vai continuar boa e bem brasileira). “Capitu” do Tatit é certamente uma das coisas mais maravilhosas que já ouvi. Conheci na voz da Na Ozetti, que me foi gentilmente apresentada pela Cláudia: “Não há quem não se encante/Um método de agir que é tão astuto/Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo/É só se entregar, é não resistir, é capitular”. Poeticamente a canção já encanta. Lírica, com um ritmo de poesia do Bandeira, e uma madureza só vista em caras como Vinícius e Chico, que sabem tão bem cantar a mulher e seus ardis.
O Jazz com cheiro do rio missisipi de “dream a little dream of me” é qualquer coisa que penetra, se insere insidiosamente na veia da gente. Fiquei com estes versos me cutucando por vários dias: “Say nighty-night and kiss me/Just hold me tight and tell me you miss me”. Só o jazz possui essa simplicidade de dizer as coisas, sem ser piegas, sem ser simplicista, e ser absurdamente lindo. Coisa que a nossa bossa nova conseguiu emprestar e dar uma cor brasileira. Esse disco da Zélia é a garantia de que a podemos ficar sossegados. Se Nara Leão, Elis, Clara Nunes e outras tantas que já se foram, pareciam não ter deixado sucessoras, parece que encontramos.

Flores de Você


Gravura de Modigliani

Flores de Você
(Inspirado nas flores da porta da casa da C.)

Azaléia, cálida, calêndula
pálida crisálida
pêndula.
o teu esmero de flor me basta.

O teu esmero em ser desleixada,
natural, naturaleza, simples e amada,
quando triste, muito
muito mais encantada.

És dama-da-noite
dos dias
das tardes.
Quando quer, teu fogo me parte
Com alarde de ressaca.

Rimas com alma, calma
calma, que meu amor espera
que o teu desabroches na primavera.

Perfeita, de ar-refeita
a-mar anamaria
amar-perfeita, sugo
teus cálices-de-leite.

As flores de você, as estações esperam
que desabroches mulher, a lua
te pede muda, enquanto o sol te
implora insurdecedor.
a tua beleza um dia vai-se,
e foi como veio,
e meu langor, nos teus espinhos chora.

quinta-feira, julho 06, 2006

1 x 0

"O velho Orfeu Africano - urucungo", aquarela de Debret, 1826

CHOROS

Coração angustiado.
Ufa!
pensei que minha alma
havia se mudado.

* * *

Música no rádio.
uma canção
me chora.

* * *

Um choro no rádio
lençóis frios
me secam.

* * *

para Marília

De prazer
teus olhos
gritam nas órbitas.

* * *

Zélia Duncan no choro
o bandolim tocado
com cordas vocais.

* * *

(ouvindo Pixinguinha)

O choro da flauta transversa
atravessa mil a zero
em firula musical.

* * *

O choro de tão alegre
de tão instrumental...
como essa melodia feliz
me deixou sentimental.
* * *
Brinca o moleque
toca o bandolim.
nunca fui feliz assim.
_________________
* Quem sabe isso vire um livro um dia: Canções chorosas (e outros lamentos rimados)

segunda-feira, julho 03, 2006

pra frente Bra?il

Me Tercetos
Calmo passo
sol sem sal,
céu sem brim.
Só me basto,
mar sem mim,
fico assim.
Fiz e faço
vou e vim
até meu fim.

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Sou um soccermaníaco, logo fiquei decepcionado com o que aconteceu sábado. Mas quando ouvia a Milly Lacombe dizendo que a seleção não passaria das quartas, algo me dizia que ela tinha razão, mas outro algo em mim não queria acreditar. Sou otimista. é por isso que nunca mais vão comparar o ronaldinho gaúcho com pele, zico, ou maradona. Segunda copa do cara e não fazer nada. bah, deixa pra lá.

A gravura do Portinari é pra lembrar que o futebol pode ser arte, quando se quer...