BeatBossa

domingo, março 07, 2010

Porque não sou mais religioso - parte 1

Vendo “As fitas do ateísmo” (documentário que recomendo a todo cético) comecei a pensar sobre a minha 'desconversão'. Nas fitas, o entrevistador perguntava sempre aos entrevistados quando ocorreu o momento da desconversão deles, ou quais foram os seus motivos para deixarem de acreditar em deus (praticamente todos eles cresceram em famílias mais ou menos religiosas, foram à catequese, frequentaram a igreja aos domingos, etc). Entre os entrevistados estão Daniel Dennet, Richard Dawkins, Steven Weinberg, entre outros.

É difícil dizer 'quando' isso ocorreu. Sempre tive um pé atrás com a igreja, seja pelo luxo dos padres e pastores, seja pela distância que os pobres mantém da igreja católica, seja pela hipocrisia da maioria dos seus praticantes. Esses eram fatos que saltavam aos meus olhos já na adolescência. Não sei porque um pastor precisa morar em uma cobertura para ajudar quem precisa. Veja: ninguém precisa ter uma religião para ser uma pessoa boa; ajudar o próximo; ou ter um código de conduta moral (não precisamos de mandamentos, temos o código civil; o código penal; princípios éticos, etc).

Claro, ter lido Nietszche, Marx, Russell, entre outros abriu meus olhos para muitas coisas: dominação via ideologia; a consequente manipulação das massas; o uso desse poder religioso para fins políticos e bélicos (vide Bush atualmente, ou as Cruzadas na idade média). Mesmo a história da humanidade está recheada de exemplos de intolerância religiosa ou imposição da cultura religiosa do conquistador sobre o conquistado (nossos índios são um exemplo disso, e dentro da línguística também temos o exemplo dos linguistas missionários que vinham estudar as línguas indígenas brasileiras com o pretexto científico, embora ao mesmo tempo, com o uso do conhecimento que tinham da língua da tribo, usavam tal conhecimento para catequizar). Isso também me assusta muito, essa preocupação que certas religiões têm em espalhar a 'verdade', catequizar os gentios.

Ainda me é estranho o fato que tanta gente insista na teoria da evolução das espécies para justificar sua descrença na Bíblia (é o que acontece com alguns dos entrevistados nas “fitas”). Não precisamos do darwinismo para perceber que o criacionismo está para a civilização ocidental assim como qualquer lenda indígena da criação da mandioca ou do milho está para os povos indígenas brasileiros. É só um mito (assim como Babel, Sodoma e Gomorra, a Arca de Noé, ou os mitos gregos). Os mitos gregos poderiam perfeitamente estar na Bíblia. Provavelmente não tenho nenhuma definição antropológica de 'mito', mas para mim, intuitivamente, o velho testamento (principalmente o Gênesis) é uma coleção de mitos. Por mito entendo uma explicação que um povo cria para fatos que não compreende. Em resumo, apelar para o darwinismo soa para mim tão simples que chega a ser tautológico. Ao mesmo tempo em que é admirável que ainda percam tempo com isso.

A maldade e a intolerância são as principais razões para minha descrença. A injustiça, a desigualdade também são fatores importantes. Além das inúmeras coisas estúpidas que vemos padres e pastores dizerem e fazerem todos os dias. Condenar o uso da camisinha me parece tão ridículo quanto proibir a transfusão de sangue ou a doação de órgãos por razões teológicas. Deus quer o bem de todos, mas ele não quer que usemos proteção, pois o sexo, por definição, é só para a reprodução. Claro, a natureza fez ele prazeroso porque de outra forma não haveria copulação (temos consciência, o que os outros animais não tem, logo porque faríamos algo que não nos dá prazer?). Voltando ao assunto, não há explicação razoável para a existência do mal. O deus do velho testamento é um sujeito ranzinza e punitivo (ele deu o livre-arbítrio, ao mesmo tempo em que é onipresente e onipotente, vê tudo, e é capaz de interferir nos destinos dos homens, porque não impediu o holocausto, por ex., era só provocar um ataque cardíaco no Hitler). Talvez a resposta seja o livre arbítrio: temos a liberdade de fazer o que quisermos e responderemos por isso no além. Ótimo! Isso é tão cômodo, contanto que você se arrependa dos seus pecados tá tudo bem, deus é um pai bom, vai de deixar um tempinho no purgatório, e depois você pode curtir a vida eterna (claro, um padre dirá que não é tão simples assim, mas se não for, o perdão não faz o menor sentido).

Claro, não nego toda a produção cultural que a humanidade criou porque é religiosa (ou em função da religião), como a Capela Sistina, as mesquistas muçulmanas, etc. Não nego isso, e talvez seja esse o único ponto positivo disso tudo. Só que para mim, a existência de um ser que interfere nos destinos dos homens aqui na terra não faz mais o menor sentido. Ele só interfere quando quer e por razões totalmente arbitrárias e inexplicáveis à razão e à lógica ordinária ('Meu deus é melhor que o seu').

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2 Comentários:

Às 6:53 AM , Blogger Guilherme Vignini disse...

Matou a pau.
Eu sou ateu também.
Quando você vê que um FDP mata o Glauco falando que é Jesus Cristo lembro de uma música do Motorhead em que o Lemmy diz: "Bet Your Life You Don't Nees Religion".

Cheers

 
Às 9:21 PM , Anonymous baxo disse...

Concordo. Concordo também que, contudo, as religiões impulsionaram a criação em várias linguagens artísticas. Uma breve olhada na riqueza da produção filosófica medieval e pré-medieval (escolástica), a arquitetura (a gótica me fascina), escultura, nas pinturas renascentistas, para percebermos que, apesar de tudo, o belo foi explorado. Isso merece um destaque, principalmente no que se refere a filosofia.

Parafraseando o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos (melhor tradução de 'assim falava zaratrusta' e, diga-se de passagem, viveu a margem das universidades) os "modernos" desconsideraram muito radicalmente a produção filosófica escolástica. A repulsa pela Igreja foi uma das grandes responsáveis por isso, compreensivelmente. Segundo ele, muitas das questões filosóficas (re)tomadas na modernidade já haviam profundamente sido especuladas e exploradas (jamais esgotadas) na escolástica. Para ele, um solo fértil foi deixado para trás (claro que tem quem se dedique, porém, os clássicos modernos não o fizeram).

Deixando a filosofia e a arte de lado, o que resta é baboseira venenosa

Segue um link de um vídeo feito pelo ministerio da educação da Macedônia, justificando a presença do ensino religioso em suas escolas. Repare que a argumentação é bem forçada, e pelo jeito a intenção é evangelizadora...

http://www.youtube.com/watch?v=VqgcrJs5cPE

Até mais!!

 

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