BeatBossa

terça-feira, maio 30, 2006

Chorinho, Candido Portinari

CRONISTA ACIDENTAL


Escrever é uma conseqüência natural de muitas coisas. Leitura, um mínimo de senso crítico (mesmo que ilusório) e acima de tudo bom senso. E o mais interessante de tudo é que posso escrever o que me der na veneta que não vai fazer diferença alguma. Já é clássica a frase de Machado de Assis, se não me engano, citando outro autor da época, e provavelmente falando de outra coisa. O fato é que “muitos são os chamados, poucos os escolhidos”.

Não que isso possa demover algum escritor novo do seu célebre objetivo de se tornar rico, famoso e quem sabe um símbolo sexual. Não. Escolhido ou não, já que a latrina do tempo trata de sugar as coisas que precisam ser, continuamos aqui arduamente nesta tarefa ingrata. Se pelo menos os leitores nos dessem aquilo que a Rita Lee chama de o privilégio de sentir prazer comigo, Uau. Isso já seria maravilhoso. O ápice da masturbação mental. Narciso comendo o próprio rabo. E não demoraria muito todos os artistas de seres inconcebivelmente promíscuos se tornariam criaturas assexuadas. (estou começando a descobrir o poder que alguns advérbios em “mente” possuem. É quase como dar aquele lustre final no bico do sapato ou passar um pente no cabelo).

O prazer do texto do Barthes é fruído em duas frentes, anal e vaginal, oral e visual, quem sabe gustativamente até. Todos os sentidos operam neste prazer. Na concepção do objeto, os olhos perquirem a realidade, inquietos e sorrateiros verificam as frinchas do espírito humano para pegar, pescar aquele momento, o instante fatal de deslize em que nossa humanidade se revela mais crua e bela. Crua, viva, latejante. Vivamente latejante. Os ouvidos, auscultam os caminhos do sangue. Querem senti-lo. Correndo ingenuamente como o rebanho que foge do poeta Caeiro. “ser poeta não é pretensão minha, é minha maneira de estar só”. E só. Recluso em si. Alheio de vida. Todo morosidade, ébrio de um sentimento que mistura inspiração e frustração a escrita flui, como os rios de esperma que aquele personagem de Arnaud (As invasões bárbaras) verteu em homenagem a sua amada. Como se isso purgasse, limpasse o prazer, renovasse uma espécie de desejo que perpetuar a beleza, renovar a beleza naquele ato de adoração ante um espécime feminino. A escrita é feminina. Fugidia, ela quer ser conquistada, quer que a beijem e se excita ao ver que vertem rios de esperma por ela. E eis que ela floresce, cresce, imensamente excitada ela jorra caudalosa. E após descansa, no longo ócio das manhãs frias.

Após. Somente após. Ela renasce. Novamente em olhos. Novamente em ouvidos. Que lêem, que querem ouvir. Desfrutar esse prazer que o escritor teve, que ele gozou sozinho. Quem ele acredita que seja para gozar sozinho de um prazer tal? Que humanidade ele se reserva para nos dizer o que sentimos, mostrar-nos nus, completamente desprovidos de moral, de bons costumes, de uma moral classe média que dizem que devemos ter e sem sabermos ao certo o que é ser classe média e o que é ter moral. Já que esses valores nos são estranhos em uma época onde a moral é não ter moral. E não estar morrendo de fome já te coloca na classe média. O leitor frui. Degusta a palavra como quem busca um ósculo perdido no ventre da mulher amada. Quer sentir aquele gosto quase ácido, quase doce. Uma carne pele e sentidos. Descobrir ali, no vértice, no centro do incêndio como as coisas queimam, e queimar-se de todo. E se possível mergulhar vorazmente com boca, língua lábio, saliva e dedos nestas sendas perigosas. Enredar-se candidamente, sempre a descobrir um novo pecado.
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Olha eu aqui de novo...
- Mutantes ensaiando... com a Zélia Duncan no vocal. Surreal, como diz a Marília;
- Tinha tanta coisa pra dizer que esqueci. O texto acima parece que me esgotou;
- Camile Claudel. Filmão. Elenco de primeiro time e um baile de interpretação da Isabele Adjani (acho que está errado);
- Entra campeonato, sai campeonato, e o Flamengo continua levando fumo. O time até que jogo mais ou menos. Mas com um ataque meia boca daqueles... nunca entendi como os técnicos que passam por lá conseguem destruir jogadores artilheiros. Dimba, Obina, só pra citar casos mais recentes, Luisão que vive machucado. O meio de campo ta mais ou menos. Apostam quanto que Leonardo Moura e Renato até o final do ano já estarão negociados? Se já não estão.
- Tem link novo ali do lado: é do blog do sebo real e virtual Livraria Osório de Curitiba. Tem umas coisas interessantes.

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