BeatBossa

sábado, março 21, 2009

Eu Matei Lúcio Flávio (Antonio Calmon, 1978)

Produzido e estrelado pelo próprio Jece Valadão esse filme me impressionou pelo que tem de bom e pelo que tem de ruim. Mas de alguma forma essas duas coisas se complementam. Filme brasileiro nos idos dos anos 70 e 80 enchia sala de cinema e era atração popular. Filmar a história verídica de um leão-de-chácara (segurança de bordel) que vira polícial no Rio e comando o que ficou conhecido como o Esquadrão da Morte. Eles acabam virando celebridades até o ponto em que a burguesia fica descontente com o mostro que criou e percebe que ele saiu do controle. É quando começa a corrupção na polícia, policial matando policial, policial se aliciando com bandido, os bandidos criando raiva da polícia. Ou como diz uma das frases iniciais do filme: a polícia existe para proteger a sociedade daqueles que estão à margem dela. E é o que acontece até hoje, não mudou nada. Até o privilégio da presunção de inocência não existe mais: todo mundo é suspeito. Não pretendo uma análise sociológica da época, porque conheço muito pouco daqueles idos. O contraste no filme fica pelas marcantes cenas de violência sonorizadas por músicas de Roberto Carlos. Daí aparecem aquelas opiniões burras do tipo: a jovem guarda foi parceira de ditadura, iludiu o povo enquanto o exército fazia o que queria com o país. Quem conhece história e tem uma família normal sabe que naqueles idos quem fazia sucesso com o povo era o Roberto Carlos mesmo e outros tipos bregas. A elite, uma certa burguesia universitária escutava Chico, Caetano, Gil e outros bambas. Se o meu raciocínio tá correto a música ali não tem motivo de contraste nenhum, é apenas uma trilha que reflete o gosto popular da época (tem Lídia do Chico no começo, e muitas do Roberto). De certa forma, o filme tem um lado Tarantino de estetizar a violência. Jece é aquele malvado carismático, nos 90 min de filme vai pra cama com pelo menos umas 6 mulheres diferentes, mas no fim, se deixa entregar à polícia, porque queria enterrar a amada que morreu. Ou seja, ele não é de todo um ser apenas mal. Sua vida não é perseguir e matar bandido apenas, mas também é entrecortada por passeios nas boates, e noites com prostitutas e amantes. Como contraste, veja o típico tira americano que pelo amor à polícia acaba solteiro, ou divorciado, e no final do dia o único lugar que tem pra ir é o bar, onde só tem homens. Jece, no caso, o personagem vivido por ele Mariel Maryscotte é o malandro que entrou pro sistema, era um líder que a polícia precisava para comandar um bando de assassinos, com o suposto objetivo de limpar as ruas do Rio. As consequências disso a gente sente hoje, quer dizer, os cariocas sim devem sentir as consequências.

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