BeatBossa

sexta-feira, março 06, 2009

Fatal (Elegy, 2008)

Vai ver esse é mais um caso de adaptação de título cujo significado em português não tem nada a ver com elegia, que é uma palavra que a gente tem também, mas que provalvemente quase ninguém conhece o que significa, então, vamos dar um título mais sexy pro filme. Sir Ben Kingsley e Penélope Cruz vivem um professor universitário e crítico cultural e aluna que se apaixonam. Nada demais nesse enredo. Só que David (Ben K.) não acredita em casamento (um divórcio no histórico) e chega aos 60 sem ter tido um compromisso sério depois que se separou da mãe do seu filho, Kenny. Consuela (Penélope) é jovem, recém formada (o professor pelo menos é ético ao só sair com as alunas depois que elas deixam de ser suas alunas) é seduzida pelo charme e pelo conhecimento desse homem que conhece de tudo um pouco. Entretanto, esse homem que sempre soube como administrar sua vida amorosa, evitando compromissos e não se deixando envolver se vê perdidamente apaixonada bela beleza e por Consuela. Numa fala do filme, George, poeta nova-iorquino amigo de David (Dennis Hopper), diz que "a beleza não deixa a gente enxergar a pessoa" (ou algo do tipo). David não está apenas viciado na beleza de Consuela, é uma espécie de amor obcessivo, que luta com outro sentimento em David: o medo de perdê-la. Como ele não consegue largar ela, acaba não indo na sua festa de formatura. É quando ela para de procurá-lo. Sua vida desmorona, e com a ajuda do amigo George, ele volta a trabalhar e retoma seus afazeres. No olhar, aquela tristeza de quem espera um trem que sabe que não vai chegar. Longe de ser um grande filme, as atuações de Ben e Penélope são discretas, competentes. Baseado no romance de Philip Roth (The Dying Animal), o filme tem mérito ao discutir temas sempre pertinentes como o medo da velhice, a relação entre um homem 30 anos mais velho do que uma mulher, ou mesmo a relação aberta que David mantém com Carolyn, o que no Brasil a gente chamaria de uma amizade colorida, que dura há 20 anos. O melhor de tudo é um pequeno retrato de cabeça de um homem inteligente, culto, lido, que não sabe lidar com os próprios sentimentos (o eterno mote dos filmes de Woody Allen): desejo, culpa, medo, nesse caso, estar com uma mulher absurdamente bela como Consuela era viver o risco constante de uma hora ela simplesmente realizar que há homens mais belos ou mais interessantes no mercado, e o mais importante, jovens. Como David vivia nessa tensão decide tomar a frente e acabar o relacionamento, só que ele simplesmente não conseguia fazer isso, por estar ligado demais a ela. O final é triste e um tanto inesperado. O que nos faz pensar que a beleza de fato é transitória, um dia ela acaba; Ou não, talvez é a gente que muda, e apenas não vê mais o belo no que era belo, ou começa a enxergar com outros olhos o que antes não se conseguia ver. E a lição não é que o objeto muda, nesse caso, a arte, um livro, uma música, uma pessoa mesmo, quem sabe? foi a gente que mudou, e consequentemente, nosso olhar mudou também.
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Uma frase que gostei no filme:
"- Quando faz amor com uma mulher, você se vinga de todas as coisas que te derrotaram na vida".
Depois de ouvir isso, e depois do filme do Zizek abaixo eu me pergunto como os psicanalistas conseguem manter uma ereção e ter uma vida sexual saudável (se é que eles conseguem isso).

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