BeatBossa

sexta-feira, novembro 07, 2008

Crumb



Eu estava me perguntando o que faz um documentário sobre a vida de um artista ser bom e o que nos leva a buscar na vida do artista alguma explicação para sua obra, como no poema de Billy Collins em que o poema é amarrado em uma cadeira para que confesse seu significado. Vai ver é essa nossa curiosidade de saber de onde esse cara tirou essas idéias, o que o inspira, qual é o seu processo criativo. E no final das contas parece tão simples, um sujeito que cresceu lendo quadrinhos e desenhando só poderia se tornar um desenhista. Não sei se o filme responde a essa questão dessa forma tão explícita, mas é minha leitura.

Robert Crumb parece ser o sujeito mais certo em uma família de paranóicos. Seus dois irmãos são problemáticos e meio esquizofrênicos, e sua mãe não parece estar longe disso também (suas irmãs sequer quiserem ser entrevistadas para o filme), seu pai, pelos depoimentos parecia ser um cara obcecado em ser normal e que desejava que seus filhos fossem nada mais que cidadãos produtivos para o crescimento da sociedade.

Essa paranóia toda está nos desenhos de Crumb, no sexo deslavado e sujo, nas perversões, nos sujeitos paranóicos, no Mr Natural que é uma espécie de psicanalista do Foont, que toda hora que tem um problema corre atrás do Mr. Natural em busca de uma resposta, uma explicação, um conselho, e claro, o velhinho sempre barbariza tudo.

Por mais irreal que algumas histórias sejam, pelo menos a que li, no final das contas é só uma visão triste e pessimista do seu mundo, do nosso mundo, dos nossos costumes, e acho que os depoimentos de Crumb ao longo do filme revelam isso também. Se de perto ninguém é normal, de longe, no olhar de Crumb, somos seres estranhos gritando por satisfação de nossos desejos primitivos, clamando por aceitação e amor, no final das contas, como se essa fosse a resposta pra vida, se não for, o que pode ser afinal?

A classe média, uma entidade obscura pra mim, mas que vale só como um rótulo para o tipo de sociedade em que estamos, em que tudo se baseia na família, na educação dos filhos, na decência, na moral, na religião, e na produtividade e no consumo, é um completo fracasso (enquanto instituição), e nesse sentido acho que o Crumb tem muito de um Rabelais, em usar figuras grotescas como uma espécie de retrato distorcido de uma realidade tão suja e depravada que não poderia ser representada de outra forma. Só podemos falar da loucura do nosso tempo com loucura, não dá pra reagir com sanidade, como se a arte fosse um retrato do mundo, e a arte pop é um pouco isso, transformar o que é consumo, em arte, dessacralizando essa entidade acadêmica e burocrata. Nesse ponto ele é até coerente em não deixar que seus quadrinhos virem filme, pois estragaria toda a subversão da coisa.

Ele conta que nos anos sessenta, depois de uma viagem de LSD começou a desenhar umas figuras meio estranhas, que eram diferentes do que ele vinha desenhando até então. Claro, seria tolice dizer que uma viagem de ácido criou a genialidade dele, mais do que o fato de ele viver com seu caderno de esboços debaixo do braço. E essa obsessão pelo desenho é provavelmente a melhor explicação para a beleza do seu traço, e o apuro em detalhe dos seus quadrinhos, além de um olhar agudo e sagaz, capaz de perceber aquelas coisinhas que estão ali numa paisagem e nos passam desapercebidas, porque sempre estiveram ali.

ps. lembra daquele disco da Janis Joplin? Sim, Robert Crumb desenhou

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Se você ficou triste porque sabe que não há a menor possibilidade da locadora de sua cidade ter o filme, vai lá:

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Mais dois presentes. 

Kafka: biografia do tio Francis com ilustrações do Crumb, traduzido. você vai precisar de um leitor de comics que tá incluido no pacote, é super leve.

The book of Mr. Natural, tá em inglês mesmo e se não consegue ler azar o seu, quem mandou matar as aulas de inglês na escola. os arquivos estão em jpg.

ps.: um Hooray pro cara que inventou o compartilhando de arquivos!!!



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