BeatBossa

sábado, fevereiro 07, 2009

Valsa com Bashir (Ari Folman, 2008)

Acho que sou meio devagar. Tenho que esperar uns dias pra escrever sobre o que vejo e leio, deixar amadurecer em mim a idéia do filme, digerir de alguma forma o que ele me traz. Numa época em que o debate documentário/ficção nunca esteve tão aceso (e tenho a impressão que, esse debate sempre existiu), nada melhor do que um documentário em animação pra alimentar o pensamento. Tá tudo ali: memória, psicanálise, história, ficção, documentário. Foi uma opção fabulosa: ao invés de apenas entrevistar os seus amigos e companheiros de exército no Israelense, Ari vai em busca da memória que se perdeu, e nada melhor para representar essa memória perdida do que com animação. Afinal, realidade ou não, a memória não deixa de ser uma fantasia, porque é história. Há também uma luta interior: Ari simplesmente não entende porque esqueceu tudo o que aconteceu com ele durante o período em que esteva na guerra, em 1982, quando Israel invadira o Líbano, e simplesmente fechou os olhos diante do massacre de Palestinos efetuado por Libaneses cristãos. quando vai entrevistar os amigos percebe que muitos pouco lembram do que ocorreu lá, e os que lembram, contam-lhe coisas que ele não lembra ter vivido. Adorei a cena inicial, com os cachorros que ficam latindo na porta da casa de um dos amigos do Ari. Durante a guerra, esse homem foi ordenado a matar os cachorros da vila, para que eles não denunciassem a passagem de tropas à noite. foram 26 cachorros. e agora, ele tem pesadelos com os cachorros, que querem vir buscar ele para se vingar. O final não é muito revelador, e é onde surgem as imagens reais, da época, e talvez seja uma pista. É quando ele descobre porque sua memória apagou o que viu, um truque do inconsciente. Não sou lido em psicanálise, mas pelo que sei o inconsciente sempre dá um jeitinho de esconder da memória coisas que a gente não quer mais lembrar, principalmente se foram traumas. Não é que ele não tenha visto, ou vivido o que viveu; o amigo que tem memória tem pesadelos e vive perturbado, para garantir a paz de espírito, a memória de Ari apagou as lembranças daqueles dias terríveis, mas como será que ele vai conseguir viver depois do que conseguiu recuperar?

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